AVALIAÇÃO OU VERIFICAÇÃO? | FICHAMENTO

 


LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2011

TEXTO ANTERIOR: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR: APONTAMENTOS SOBRE A PEDAGOGIA DO EXAME


VERIFICAÇÃO OU AVALIAÇÃO: O QUE PRATICA A ESCOLA?

“A avaliação da aprendizagem escolar adquire seu sentido na medida em que se articula com um projeto pedagógico e com seu consequente projeto de ensino. A avaliação, tanto no geral quanto no caso específico da aprendizagem, não possui uma finalidade em si; ela subsidia um curso de ação que visa construir um resultado previamente definido.” (p. 45)

A avaliação é diferente de aferição ou verificação. Enquanto a primeira busca nortear os caminhos para a aprendizagem qualificando os resultados e priorizando o desenvolvimento, a segunda é apenas uma medida dos resultados da aprendizagem. Essa aferição possui mecanismos e especificidades variados e nada mais é do que a comparação de grandezas baseada no acerto de questões. Ideal como ponto de partida, este tipo de verificação acaba, infelizmente, fornecendo um resultado definitivo.

Dessa forma, a medida -  a ser obtida na aferição - é transformada em nota ou conceito. Nota como expressão numérica e conceito como uma sigla ou termos que nem sempre refletem a aprendizagem. De qualquer forma, o resultado provém de uma equivalência dos acertos dentro de uma escala previamente definida. Isso fica claro no exemplo dado por Luckesi:

“Para um teste de dez questões, as correspondências entre acertos e notas são simples: cada questão equivale a um décimo da nota máxima, que seria dez. Assim, um aluno que acertou oito questões obtém a nota oito.” (p. 49)

Definidos pelo professor ou pelo sistema de ensino, notas e conceitos resultam em uma média periódica. Esses dados normalmente são registrados em diário de classe, além de oportunizar o que o sistema denomina como “recuperação” para os estudantes com notas abaixo da linha de corte pré-definida.

Outra possibilidade de utilização dos resultados da aferição é a reflexão sobre as dificuldades e desvios demonstrados pelos estudantes, a fim de pensar em caminhos para que eles realmente aprendam. Essa, entretanto, é forma de análise menos provável, já que a prioridade está na aprovação ou reprovação. Para Luckesi,

“A avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção da configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer ante ou com ele. A verificação é uma ação que ‘congela’ o objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação.” (p. 53)

No Brasil predomina a verificação, cujos resultados se encerram nos registros oficiais não contribuindo para a qualidade do ensino e da aprendizagem. A nota, utilizada como instrumento de ameaça e tortura, coisifica a aprendizagem e classifica os educandos em aprovados ou reprovados. Poucos a utilizam como parte do processo de avaliação, identificando limites, avanços e dificuldades.

Diante deste quadro, LuckeSi propõe alguns encaminhamentos. O primeiro deles é fazer o uso efetivo da avaliação para alcançar o aprendizado. Para isso, devemos abandonar o caráter classificatório das provas e identificar também nas manifestações das condutas o que foi aprendido.

Ao invés de uma média de corte, trabalhar com o nível de expectativa preestabelecido coletivamente, pela equipe pedagógica, para cada educando e, a partir dos resultados, decidir as condutas a serem seguidas, identificando os sucessos e insucessos necessitado de, ou reorientar a prática, ou dar prosseguimento ao trabalho. Assim, a aferição, ao invés de classificar, seria utilizada para direcionar a aprendizagem.

O segundo encaminhamento proposto pelo autor é avaliar para além da prova, analisando conhecimentos, hábitos e habilidades expressas pelo estudante, já que,

“A média mínima de notas é enganosa do ponto de vista de ter ciência daquilo que o educando adquiriu. Ela opera no que diz respeito ao aproveitamento escolar, com pequena quantidade de elementos - dois, três ou quatro resultados; e a média, em número reduzido de casos, cria, como sabemos, uma forte distorção na expressão da realidade.” (p. 56)

Logo, a média fornece um aproveitamento fracionado e esconde carências de aprendizagens. Apesar disso, esse modelo continua sendo imposto pelos sistemas de ensino e pela própria legislação educacional, que exige um registro oficial,

Luckesi defende a inexistência das notas para avaliar a efetiva aprendizagem. Segundo ele, isso pode ser feito em caráter oficioso diante da exigência delas pelo sistema. Mas, para que esse paradigma seja rompido, é necessário muito planejamento e reflexão por parte do professor para que se estabeleça, coletivamente, o mínimo que deve ser aprendido de forma a alcançar a todos.

O terceiro encaminhamento é o engajamento do educador em prol do desenvolvimento dos estudantes. Fundamental para a plena avaliação, essa demanda se encontra prejudicada por conta do baixo investimento financeiro e pedagógico. Para superar a mera verificação estática e classificatória, é preciso investir na construção dos resultados. 

Por fim, como último encaminhamento para a prática da avaliação consciente e construtiva, é necessário rigor científico e metodológico, visto que,

“A ciência pedagógica, hoje, está suficientemente amadurecida para oferecer subsídios à condução de uma prática educativa capaz de levar à construção de resultados significativos da aprendizagem, que se manifestem em prol do desenvolvimento do educando.” (p. 60)

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