O RACISMO (IN)JUSTIFICADO | ATUALIDADES

 



Ao longo da Idade Moderna, que na divisão eurocêntrica da História se estendeu de 1458 a 1789, a ideia de inferioridade dos africanos e da população negra era atestada pela própria Igreja. Acusados de pecadores, supersticiosos e por ligações com o islamismo, a escravização humana era vista como algo benéfico a eles, já que se constituiria como uma espécie de carma, espiação do seus pecados.

A Igreja foi conivente com a escravidão moderna.

Para os menos crentes, no entanto, os negros eram tidos como uma espécie inferior aos europeus, uma forma anterior de humanidade e, por isso, eram tratados como animais sem a menor culpa, sem o menor remorso.

A ciência, desde o final do século XVIII, se esforçou muito para dar um caráter técnico ao racismo, justificando para as massas e para si própria as atrocidades cometidas ao longo da História.

O naturalista alemão Johann Friedrich Blumembach trouxe a ideia de raças em 1775. Seus estudos deram impulso às teorias raciais que surgiram com teses cada vez mais deturpantes e absurdas.

Johann Friedrich Blumembach

Em uma publicação de 1855, Arthur de Gobineau foi ainda mais longe: defendeu a superioridade da denominada “raça branca” que, segundo ele, era naturalmente dotada de intelecto superior. Para ele, a miscigenação era um grande mal civilizacional que promoveria atraso cultural e formaria indivíduos fracos e inferiores.

Gobineau trouxe em sua obra a tese dos estágios civilizatórios, onde haveria patamares para o desenvolvimento social, econômico e moral. Segundo ele, o branco europeu estaria no degrau mais alto da evolução, estágio impossível de ser alcançados por africanos e latino-americanos por serem negros e mestiços.

Arthur de Gobineau

Estavam lançadas as bases para o darwinismo social, que utilizou o evolucionismo biológico proposto por Charles Darwin e o aplicou às ciências humanas e sociais, trazendo uma ideia de evolução social ou cultural. Este pensamento enaltecia os chamados “tipos puros”, colocando como prejuízo evolutivo quaisquer formas de miscigenação. Dentro desta lógica os povos tidos como “inferiores” deveriam ser destruídos ou assimilados pelos superiores, ideia que justificou as práticas imperialistas vestindo-as de missões civilizatórias.

Entre as áreas da ciência que mais se destacaram ao longo da segunda metade do século XIX e início do século XX na tentativa de justificar o racismo foram a frenologia, que estudava as diferenças mentais, morais e comportamentais nas raças humanas conferindo menor capacidade mentais àquelas consideradas inferiores; a Antropometria, que analisava as proporções das partes do corpo diferenciando-as por condições raciais; e a craniometria ou craniologia, que comparava as dimensões dos crânios e do cérebros.

A craniologia tentava minimizar os negros e indígenas colocando-os abaixo da condição de seres humanos.

Todas elas serviram de base para diferenciar as raças e serviram de suporte para a escravidão, discriminação e até mesmo tentativas de embranquecimento como a que ocorreu no Brasil, com o impulso à chegada de imigrantes europeus em substituição aos trabalhadores negros até então escravizados.

Hoje a ciência comprova que não é correto falar em raças no que diz respeito aos seres humanos e que a aparência física (responsável por ínfima parte do nosso DNA) não possui nenhuma relação com as capacidades mentais ou comportamentos morais dos povos.

Mas, infelizmente, essas teorias raciais foram amplamente utilizadas para justificar o racismo, a desigualdade social e econômica e até mesmo as guerras. Preciso dizer por quem? Exatamente! Em plena segunda década do século XXI, surge o deputado Gustavo Gayer, do PL de Goiás, que em um podcast defendeu essas mesmas teses racistas para justificar as ditaduras, pobreza e desigualdades na América Latina e na África.

Criança exibida como animal exótico por homens brancos

Esquece-se Gayer que estas condições são fruto, na verdade, do colonialismo e do imperialismo europeu, que exploraram de diversos povos seu trabalho e suas riquezas. Foram os tidos por ele como “superiores” que praticaram diversas formas de genocídio e atrocidades horríveis como a própria escravidão, os circos e zoológicos que exibiam seres “exóticos” como se fossem animais e até mesmo a promoção de caçada a “espécimes” humanos.

Caçador exibe com orgulho sua coleção de "espécimes humanos" caçados por ele.

Foram os europeus que deixaram um grande rastro de fome, guerras, ditaduras, misérias e desigualdades por onde passaram. Hoje eles gozam de excelentes indicadores sociais e econômicos enquanto praticam racismo e xenofobia com os povos que eles mesmos exploraram e exploram até hoje.

ACESSE NOSSOS TEXTOS DE ATUALIDADES

Fontes pesquisadas:

RACISMO CIENTÍFICO: DA TEORIA À PRÁTICA. Disponível em <https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/1154/o/VILAR__Leandro._O_racismo_cient%C3%ADfico_da_teoria_a_pr%C3%A1tica%281%29.pdf?1599239837>. Acesso em 30 jun, 2023.

COLUNA CIÊNCIAS | É POSSÍVEL FALAR EM RAÇAS HUMANAS? Disponível em <https://www.brasildefatomg.com.br/2018/11/28/coluna-ciencias-or-e-correto-falar-em-racas-humanas>. Acesso em 30 jun, 2023.


Comentários

Seguidores

Postagens mais visitadas deste blog

IDENTIFICANDO O CONTINENTE AMERICANO | ATIVIDADES

POPULAÇÃO BRASILEIRA POR REGIÕES | ATIVIDADES

POVOS DO ORIENTE MÉDIO | ATIVIDADES