A SISTEMATIZAÇÃO DA GEOGRAFIA: HUMBOLDT E RITTER | FICHAMENTO

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MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 21. ed. São Paulo: Anablume, 2007.

A SISTEMATIZAÇÃO DA GEOGRAFIA: HUMBOLDT E RITTER

“A especificidade da situação histórica da Alemanha, no início do século XIX, época em que se dá a eclosão da Geografia, está no caráter tardio da penetração das relações capitalistas nesse país. Na verdade, o país não existe enquanto tal, pois ainda não se constituiu como Estado nacional.” (p. 59)

A Alemanha se apresenta no início do século XIX como um conglomerado de feudos ligados entre si por traços culturais comuns. Com ausência de unidade política e econômica, a formação de um Estado Nacional alemão só se concretizaria em 1870. O poder político estava nas mãos dos proprietários de terras, que formavam uma aristocracia agrária que possuía poderes absolutos do ponto de vista local.

A implantação do modo de produção capitalista na Alemanha se daria em conciliação com a ordem dominante, criando o que Moraes colocou como “feudalismo modernizado”, mantendo a servidão como forma de trabalho. A burguesia alemã se desenvolveria à sombra do Estado, este comandado pela aristocracia agrária. Moraes concluiu que

"Assim, mesclam-se elementos tipicamente feudais com outros próprios do capitalismo: produção para o mercado, com trabalho servil. O comércio local não se desenvolve, sendo a produção destinada ao exterior." (p. 60)

A ideia de unidade nacional na Alemanha seria impulsionada pela sedimentação das relações capitalistas, no período em que o império napoleônico se expandia pela Europa, oportunizando o surgimento e desenvolvimento da indústria alemã. A formação da Confederação Germânica, liderada pela Prússia, foi a demonstração máxima desse desejo de formar um Estado Unificado. Isso posto, segundo Moraes,

"A falta da constituição de um Estado nacional, a extrema diversidade entre os vários membros da Confederação, a ausência de relações duráveis entre eles, a inexistência de um centro organizador do espaço, ou de um ponto de convergência das relações econômicas, todos estes aspectos conferem à discussão geográfica uma relevância especial para as classes dominantes da Alemanha no início do século XIX." (p. 61)

É nesse contexto de formação do Estado Alemão que se dará a sistematização da Geografia como disciplina científica, onde a questão do espaço era primordial e temas diversos, como o domínio e organização do espaço, as formas de apropriação do território e a variação regional, alimentavam a discussão geográfica e se inseriam cada vez mais na pauta da sociedade alemã daquele tempo. Neste processo, destacaram-se os trabalhos de Alexander von Humboldt e de Karl Ritter.

Humboldt nasceu em 1769, era geólogo e botânico e serviu como conselheiro do rei da Prússia. Em suas inúmeras viagens, desenvolveu procedimentos próprios de análise, onde aparece a proposta de Geografia, porém sem se preocupar em formular uma nova disciplina científica. Humboldt entendia a Geografia como a parte terrestre de uma ciência maior, o cosmos. Para Moraes,

"Tal concepção transparece em sua definição do objeto geográfico, que seria a ‘contemplação da universidade das coisas, de tudo que coexiste no espaço concernente a substâncias e forças, da simultaneidade dos seres materiais que coexistem na Terra'." (p. 62)

Para ele, então, a Geografia trataria dos conhecimentos relativos à Terra e teria como função reconhecer a variedade dos fenômenos por meio da observação. Como ciência de sínteses, o estudo geográfico se deteria na contemplação praticamente estética da paisagem para sua apreensão.

Ritter, por sua vez, nasceu em 1779, era tutor de uma família de banqueiros e formado em Filosofia e História. Sua obra é explicitamente metodológica e propõe uma Geografia ao definir o conceito de sistema natural, que se constituía de uma área delimitada e dotada de individualidade. Sua proposta antropocêntrica valorizaria a relação da sociedade com a natureza a partir da análise empírica.

A função da Geografia, neste caso, seria explicar a individualidade dos sistemas naturais, numa visão religiosa que buscava a harmonia entre a ação humana e os desígnios de Deus, a fim de compreender a predestinação dos lugares. Moraes afirma que, sob esse manto da religiosidade,

"[...] a Geografia de Ritter é, principalmente, um estudo dos lugares, uma busca da individualidade destes. Toda esta proposta se assentava na arraigada perspectiva religiosa desse autor. Para ele, a ciência era uma forma de relação entre o homem e o ‘criador’ [...], uma tentativa de aprimoramento das ações humanas, assim uma aproximação à divindade." (p. 63)

Esses dois estudiosos, ambos falecidos em 1859 e bem sucedidos na academia alemã, produziram obras que compuseram a base da Geografia tradicional. Os que vieram depois desenvolveram trabalhos no sentido ou de corroborá-los ou de refutá-los. Humboldt e Ritter foram o ponto de partida para a sistematização da disciplina ao propor fundamentos para uma Geografia Unitária. Para Moraes,

"A geração que se segue à de Humboldt e Ritter vai se destacar mais pelo avanço empreendido na sistematização de estudos  especializados, do que de Geografia Geral. [Os autores dessa geração] ajudaram a manter aberta uma via de discussão teórica do pensamento geográfico, na Alemanha; nos outro países da Europa, a Geografia seguiu constituída de levantamentos empíricos e enumerações exaustivas sobre os diferentes lugares da Terra." (pp. 64-65)

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