O POSITIVISMO COMO FUNDAMENTO DA GEOGRAFIA TRADICIONAL | FICHAMENTO

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MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 21. ed. São Paulo: Anablume, 2007.

O POSITIVISMO COMO FUNDAMENTO DA GEOGRAFIA TRADICIONAL

“Os postulados do positivismo (aqui entendido como o conjunto das correntes não-dialéticas) vão ser o patamar sobre o qual se ergue o pensamento geográfico tradicional, dando-lhe unidade.” (p. 39)

O positivismo, uma linha cujos procedimentos de análise se limitam à indução a partir do empirismo pautado na observação, é uma concepção presente em todas as definições de objeto para a Geografia apresentadas no resumo anterior. Dessa forma, o estudo não ultrapassaria os aspectos observáveis da realidade, trazendo uma visão pobre apoiada na descrição, enumeração e classificação dos fenômenos relativos ao espaço. sobre isso, Moraes afirma que,

"[...] desta forma, comprometeu seus próprios procedimentos, ora fazendo relações entre elementos de qualidade distinta, ora ignorando mediações e grandezas entre processos, ora formulando juízos genéricos apressados. E sempre concluindo com a elaboração de tipos formais, a-históricos, e, enquanto tais, abstratos[...]." (p. 40)

A ideia de um método único de interpretação, com critérios válidos tanto para as ciências humanas quanto para as ciências naturais, é originária dos estudos da natureza, então considerados as ciências mais desenvolvidas, naturalizando os fenômenos humanos. Nesse contexto, o homem seria apenas mais um elemento da paisagem, um fator entre um conjunto de fatores. Na valorização da compreensão do relacionamento entre a sociedade e a natureza, essa visão negligenciou a relação entre os seres humanos.

A Geografia surge então como ciência de síntese, com a tarefa de ordenar e disciplinar os conhecimentos produzidos pelas outras ciências, impedindo-a de possuir luz própria. Essa ideia de que tudo entraria na análise geográfica e seu caráter anti-sistemático serviriam para encobrir o conflito e a indefinição de objeto, que foi tratado no texto anterior.

Foi proposto uma série de princípios e regras de procedimentos, sendo um deles o princípio da unidade terrestre, onde a Terra era vista como um todo, dando-lhe uma visão de conjunto; o princípio da individualidade pregava que cada lugar possuía características próprias, de forma que nenhum lugar pode ser igual ao outro; pelo princípio da atividade, a natureza é dinâmica; o princípio da conexão dizia que todos os elementos estão inter-relacionados; a ideia da compreensão da diversidade por meio da contraposição das individualidades está proposta no princípio da comparação; no princípio da extensão, os fenômenos manifestam-se numa porção variável do planeta; e o princípio da localização, por sua vez, nos daria a possibilidade de delimitar a manifestação de todo e qualquer fenômeno. Para Moraes,

"Estes princípios atuaram como um receituário de pesquisa, definindo regras gerais no trato com o objeto que não podiam ser negligenciadas. [...] A generalidade dos princípios permitia que posicionamentos metodológicos antagônicos convivessem em aparente unidade." (p. 43)

Essa unidade aparente caía por terra ao se verificar os dualismos do pensamento geográfico tradicional, que contrapunha geografia física e geografia humana, geografia geral e geografia regional, geografia sintética e geografia tópica e geografia unitária e geografias especializadas.

A assimilação acrítica das máximas e princípios, aceitas como verdades sem questioná-las, foi durante muito tempo a única sustentação de autoridade e legitimidade da Geografia como disciplina científica, sedimentando posições fortalecendo o temor diante de qualquer inovação e falta de perspectiva.

Disfarçados de tradição, essas máximas e princípios constituem um temário geral para a Geografia, caracterizado por ser implícito e facilitar a definição da disciplina. Tal concepção permaneceu mesmo com o movimento renovador, que definiu um espaço concreto e passível de delimitação. Moraes afirma que a indicação genérica e implícita,

"Serve mais para dizer o que não é Geografia, do que para definir-lhe o objeto. O temário realiza a circunscrição mais abrangente do domínio do conhecimento geográfico. É ele que, apesar de constituído no período da Geografia Tradicional, é mantido pelo movimento renovador, criando um elo entre os produtos destes dois pensamentos." (p. 45)

As várias definições do objeto da Geografia refletem esse temário geral e remete à neutralidade e ausência de ideologia pregados pela ciência positivista. A Geografia seria apenas um rótulo para esse temário geral e desdobraria em infinitas versões a depender da postura política e do engajamento social do geógrafo. Carregada de interesses, o conteúdo geográfico, ao contrário do que se pregava, poderia servir para a dominação ou para a libertação. Logo, para Moraes, será necessário analisar as propostas de renovação, e,

"[...] através dessas, identificar os agentes e as práticas sociais referidos ao espaço em jogo na atualidade. Em outras palavras, investigar o estágio da luta ideológica desenvolvida nesse campo de debate específico, que é a Geografia. E mais, em função desta luta, propor direcionamentos gerais que permitam pensar esta disciplina como instrumento de uma prática libertadora." (p. 47)

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