APOLOGIA DA HISTÓRIA - PARTE FINAL | FICHAMENTO

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BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Tradução, André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

CAPÍTULO V [SEM TÍTULO]

“Em vão o positivismo pretendeu eliminar da ciência a ideia de causa. Querendo ou não, todo físico, todo biólogo pensa através de ‘por quê?’ e de ‘porque’. Os historiadores não podem escapar a essa lei comum do espírito. Alguns, como Michelet, encadeiam tudo num grande ‘movimento vital’, em lugar de explicar de forma lógica; outros exibem seu aparelho de induções e de hipóteses; em todos o vínculo genético está presente.” (p. 155)

Para Bloch, as relações de causa e efeito fazem parte de uma necessidade instintiva do ser humano, inerente à sua curiosidade. Essas relações exigem a tomada de consciência crítica ultrapassando o senso comum, para evitar generalizações e não permitir que se considere a causa mais importante do que o próprio fato. O raciocínio histórico, então, é dependente da relação causal, já que essa disciplina verifica, o tempo todo, os antecedentes do evento que está sendo estudado. Dentro desse tema, Bloch escreveu:

"Que historiador militar pensará em colocar entre as razões de um vitória a gravitação, que dá conta das trajetórias dos obuses, ou as disposições fisiológicas do corpo humano, sem as quais os projéteis não seriam capazes de danos mortais? Já os antecedentes mais particulares, porém dotados também de uma certa permanência, formam o que se convencionou chamar de condições." (p. 156)

O autor define as condições como elementos que permitem a ocorrência do fato, sendo elas diferentes das causas, que se constituem em determinantes. Essas condições são diversas e variadas, de forma que nunca agem sozinhas.

O fato histórico é apontado por Marc Bloch como eventos psicológicos por excelência e, como tal, são sempre antecedidos por agentes também psicológicos, apesar da influência do meio físico. Nesse sentido, Bloch exemplificou que,

"O vírus da Peste Negra foi a causa primordial do despovoamento da Europa. Mas a epidemia só se propagou tão rapidamente em razão de certas condições sociais, portanto, em sua natureza profunda, mentais, e seus efeitos morais explicam-se apenas pelas predisposições particulares da sensibilidade coletiva." (p. 157)

Os determinismos, dos quais devemos desviar, podem nos levar a cometer erros. Eles também podem resultar de afirmações originalmente falsas e de suposições enganosas. O fato é provocado pela variabilidade da natureza humana e pode ser ocasionado por considerações prévias. É sobre isso que essa importante obra de Bloch é finalizada:

"[...] o erro não está [...] na própria explicação: reside inteiramente em seu apriorismo. Embora os exemplos, até aqui, não pareçam muito frequentes, é possível que, em determinadas condições sociais, a divisão dos recursos hídricos decida, antes de qualquer outra causa, sobre o habitat [...]. O erro foi considerar essa hipótese, previamente, como evidente. É preciso prová-la. Depois, uma vez fornecida essa prova, [...] restava ainda, aprofundando mais a análise, perguntar-se por que, de todas as atitudes psicológicas possíveis, estas se impuseram ao grupo. [...] Resumindo tudo, as causas, em história como em outros domínios, não são postuladas. São buscadas." (p. 159)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse livro é um marco para o estudo da História e para a produção historiográfica. Bloch trouxe um debate sobre o papel da ciência ao definir a história não como estudo do passado, mas como análise das ações do homem no tempo, fazendo com que ela se ocupasse, também, do presente e do futuro.

O autor criticou a todo momento a história tradicional positivista. Sobretudo quando nos trouxe uma nova ideia de fonte e testemunho, até então engessados. A ideia de que tudo nos conta a história e de que, além dos grandes agentes militares e políticos, a história é feita pelas pessoas comuns em seu cotidiano, permeia a produção historiográfica atual e está presente, inclusive no ensino de história.

Sua grande contribuição está na ideia de crítica às fontes e aos testemunhos, mostrando que a história está sujeita aos equívocos, enganos e até mesmo manipulações deliberadas para falsear os fatos e ludibriar a sociedade. 

Bloch mostrou o quanto o historiador, no uso da metodologia apropriada, é fundamental para a produção historiográfica, não sendo essa uma tarefa a ser executada por qualquer pessoa interessada. 

Nesse contexto, eu me reconheço certas vezes preconceituoso quando não dou credibilidade à produção historiográfica atual, sobretudo àquela de caráter revisionista, feita por profissionais de outras áreas, que não conhecem o método de pesquisa em história e tampouco as ideias de Bloch, sem as quais o estudo de história não existiria tal como é hoje: rico, democrático e feito para as pessoas, não apenas servindo os Estados e os poderosos.

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