RATZEL E A ANTROPOGEOGRAFIA | FICHAMENTO

 

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MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 21. ed. São Paulo: Anablume, 2007.

RATZEL E A ANTROPOGEOGRAFIA

“A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado alemão recém-constituído. L. Febvre chegou a denominá-la de ‘manual do imperialismo’.” (p. 67)

Um série de movimentos eclodidos na passagem da primeira para a segunda metade do século XIX, conhecida como Primavera dos Povos, atingiu importantes cidades da Confederação Germânica. Em reação, as classes dominantes reprimiram os movimentos de 1848 e aproximaram entre si para centralizar o comando diante das rebeliões crescentes. Neste contexto, essas mesmas classes dominantes passaram a reforçar a ideia de unificação respaldada pelas massas ensandecidas.

A vitória da Prússia na disputa contra a Áustria pela hegemonia nos territórios germânicos consolidou aspectos prussianos ao novo Estado que surgiria, como a organização militarizada da sociedade sob liderança dos representantes da velha ordem feudal, exercendo forte repressão interna no ano de 1871, em que foi constituído o Império Alemão.

O expansionismo latente era outro traço desse novo Estado que, mesmo com desenvolvimento industrial recente, garantiu seu quinhão na partilha dos territórios coloniais, colocando em prática um agressivo projeto imperial, revelando o constante desejo de anexar novos territórios. Tudo isso levou Moraes a concluir que

"Estas características do prussianismo foram passadas para o conjunto da Alemanha, através de uma política cultural nacionalista, estimulada pelo Estado [...]. Tal ideologia chauvinista assentava-se numa política exterior agressiva e expansionista." (p. 68)

É no contexto de unificação e consolidação do Estado alemão que surge a figura de Friedrich Ratzel. Alemão e prussiano, ele publicou suas obras nas últimas décadas do século XIX e testemunhou a constituição do Estado nacional alemão, se engajando no projeto estatal de seu país.

Suas formulações revigoraram o processo de sistematização da Geografia e sua obra teve por objetivo legitimar o expansionismo praticado por Otto von Bismarck. Com relação a isso, Moraes diz que

"Assim, a Geografia de Ratzel expressa diretamente um elogio do imperialismo, como ao dizer, por exemplo, ‘semelhante à luta pela vida, cuja finalidade básica é obter espaço, as lutas dos povos são quase sempre pelo mesmo objetivo. Na história moderna a recompensa da vitória foi sempre um proveito territorial’." (p. 69)

A obra Antropogeografia - fundamentos da aplicação da Geografia à História foi publicada por Ratzel no ano de 1882. Para muitos estudiosos, esse é considerado o livro fundante da Geografia Humana. Nele, Ratzel define como objeto geográfico o estudo da influência das condições naturais sobre a sociedade.

Para ele, a natureza exercia papel definitivo para a sobrevivência daos povos, podendo, a depender do lugar, disponibilizar ou não recursos naturais, possibilitar ou dificultar a expansão de um território e influenciar na conquista e luta por mais recursos ao mesmo tempo em que a sociedade se organizava para manter a posse do espaço, sendo essencial nessa tarefa a criação do Estado. A teoria de Raztel defendia ainda que

"[...] o progresso implicaria a necessidade de aumentar o território, logo, de conquistar novas áreas. Justificando essas colocações, Ratzel elabora o conceito de ‘espaço vital’; este representaria uma proporção de equilíbrio entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades, definindo, portanto, suas potencialidades de progredir e suas premências territoriais." (p. 70)

O espaço vital então justificaria o projeto imperial alemão ao naturalizar o expansionismo na forma de progresso social.

Sobre a Geografia proposta por Ratzel, podemos ressaltar que ela privilegiou o elemento humano e valorizou as questões referentes à história e o espaço destacando a formação dos territórios, a distribuição dos povos e o estudo das áreas habitadas. Moraes pontua que, do ponto de vista metodológico, Ratzel não apresentou grandes avanços ao manter a ideia de Geografia como ciência empírica pautada na observação e descrição, entendendo-a como ciência natural e trazendo uma visão naturalista do ser humano.

Dos estudos de Ratzel resultaram algumas tendências para a análise geográfica. A doutrina do determinismo geográfico surgiu da radicalização do pensamento ratzeliano por parte de seu discípulos, que simplificaram a definição do objeto geográfico proposto por Ratzel gerando a máxima de que as condições naturais determinam a história das sociedades. Apesar de simplistas, moraes afirma que

"As teses deterministas, apesar do seu simplismo, foram bastante divulgadas, e apareciam com frequência no ideário do pensamento conservador. Basta pensar nas interpretações da história brasileira, que lançam mão de teorias como a ‘indolência do homem tropical’ ou o ‘subdesenvolvimento como fruto da tropicalidade’." (p. 72)

Outro desdobramento dos estudos de Ratzel foi a constituição da Geopolítica, que se debruça sobre a dominação dos territórios e analisa a ação do Estado sobre os espaços ao mesmo tempo que apresenta teorias e técnicas que visavam legitimar o imperialismo.

A escola ambientalista surge também das ideias ratzelianas. Essa linha estuda o homem e sua relação com os elementos do meio. Daí surge também o desenvolvimento do ambientalismo apoiado na ecologia apresentando um determinismo atenuado ao ver a natureza como suporte à vida humana. Para encerrar, Moraes afirma que

"Pelos desdobramentos expostos, pode-se avaliar o peso da obra de Ratzel na evolução do pensamento geográfico. [...] A importância maior de sua proposta reside no fato de haver trazido, para o debate geográfico, os temas políticos e econômicos, colocando o homem no centro das análises. Mesmo que numa visão naturalizante e para legitimar interesses contrários ao humanismo." (p. 74)

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