A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA - PARTE 03 | FICHAMENTO

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SANTOS, Milton. A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2013.

O MEIO TÉCNICO CIENTÍFICO

“A fase atual, do ponto de vista que aqui nos interessa, é o momento no qual se constitui, sobre territórios cada vez mais vastos, o que estamos chamando de meio técnico-científico, isto é, o momento histórico em que a construção ou reconstrução do espaço se dará com um crescente conteúdo de ciência, de técnicas e de informação.” (p. 37)

Este capítulo vai trazer um pouco da periodização do espaço geográfico na classificação de Milton Santos. Ele chamava de Meio Natural, o espaço onde os recursos são retirados diretamente da natureza, valorizando as condições naturais, sendo elas a base material da existência do grupo social que o ocupa.

O meio técnico, que se deu na transição do século XVIII para o século XIX, se caracterizou pela mecanização do território, impulsionada pela máquina e pela industrialização, com profunda transformação social e técnica.

Mas, para Santos, essa categoria de espaço geográfico é insuficiente para enquadrar o atual momento. Por isso, ele o denominou como meio técnico-científico ou meio técnico-científico-informacional. Neste, a ciência e a técnica estão profundamente ligados à composição dos territórios. Trata-se de um novo meio geográfico dinamizado pela informação e pela circulação e todo seu desenvolvimento se dá a serviço dos grandes atores hegemônicos.

No Brasil, essa evolução se deu com um processo de mecanização acelerada dos espaços, favorecido pelo grande investimento em infraestrutura após a Segunda Guerra Mundial. Segundo Milton Santos,

“Ainda uma vez, uma nova materialidade superpõe novos sistemas de engenharia aos já existentes, oferecendo as condições técnicas gerais que iriam viabilizar o processo de substituição de importações para o qual todo um arsenal financeiro, fiscal, monetário, serviria como base das novas relações sociais (incluído o consumo aumentado), que iriam permitir mais uma decolagem” (p. 38)

É no fim dos anos 1960, então, que se dá um acelerado processo de modernização, com a expansão do mercado consumidor, a exportação de produtos agrícolas e a expansão da classe média. Tudo isso alimentado pela sedução do consumo, cada vez maior.

A última fase do nosso processo de integração territorial se caracterizou pela difusão da modernização, remodelando-os. Isso se deu apoiado na ciência, na tecnologia e na informação, com profunda cientificação do trabalho e informatização do território. Muito Santos ainda reforça que

“Pode-se dizer, mesmo, que o território se informatiza mais, e mais depressa, que a economia ou que a sociedade. Sem dúvida, tudo se informatiza, mas no território esse fenômeno é ainda mais notável, uma vez que o trato do território supõe o uso da informação, que está presente também nos objetos.” (p. 40)

O autor fala então sobre a informacionalização do território, caracterizada pela informatização que está além do mero instrumental. O marca esses novos tempos é a profunda manipulação da natureza, onde tornamos férteis os solos impróprios e criamos sementes transgênicas.

No período técnico-científico brasileiro, os sistemas de engenharia se sobrepõem à natureza, permitindo complexos sistemas de comunicação e transportes, além do aumento da produção de energia. O desenvolvimento da produção industrial e agrícola levou à mudanças no consumo e na circulação do capital e dos produtos, fazendo surgir novas formas econômicas e a produção não material nos territórios.

Entre as principais transformações apontadas por Santos estão o aumento no consumo de energia, a expansão das rodovias, tanto pavimentadas quanto as vicinais e a modernização dos correios e das telecomunicações. Para o autor,

“É assim que, além da integração do território que já se esboçava no período anterior, agora também se constroem as bases de uma verdadeira fluidez do território. O espaço torna-se fluido, permitindo que os fatores de produção, o trabalho, os produtos, as mercadorias, o capital passem a ter uma grande mobilidade.” (p. 42)

Milton Santos fala da Região Concentrada, uma área contínua onde se manifesta o meio técnico-científico. Nela estariam os estados da Região Sul, além de São Paulo e Rio de Janeiro e partes do Mato Grosso do Sul, Goiás e Espírito Santo. 

Nessa Região a divisão do trabalho seria mais intensa do que no restante do país, caracterizando uma modernização generalizada cuja lógica está ligada ao desenvolvimento do do país no momento atual, fruto de capitalismo amadurecido, que, ao mesmo tempo que escolhe áreas para atuar, cria ele mesmo condições para que outras o abriguem.

A nova divisão territorial do trabalho é manifestada com subdivisão e diferenciação extrema entre os espaços. A rápida difusão do capital e a sobreposição das relações mercantis às simbólicas também são características deste novo momento, criando uma nova Geografia Regional para o Brasil. O aumento da circulação e dos fluxos, sejam eles de capitais, de produtos e de pessoas, levaria a mais divisão do trabalho, o que produziria ainda mais especialização que, por sua vez, contribuiria para acelerar ainda mais os fluxos.

Nesse contexto, a exigência de conteúdo em ciência e técnica é cada vez maior. A instrumentalização do espaço a serviço do capital torna ainda mais expressivo o trabalho assalariado e a creditização do desenvolvimento leva a uma grande expansão do sistema bancário. O avanço técnico e tecnológico permitiram o aumento da produção concentrando-a em áreas cada vez menores, conforme o exemplo trazido pelo autor:

“Produções como a do alho, dos marmelos, do mamão, da cebola, para falar apenas de algumas, que antes se davam em quantidades mínimas em número considerável de lugares, hoje são majoritariamente feitas, com produtividade muitas vezes maior, em áreas cada vez menores. Essa é uma tendência facilmente assinalável no território brasileiro.” (p. 45)

O país assiste a produção de novos bens de consumo, ao aumento da produção de mercadorias e a transformação dos produtos, que antes tinham valor de uso, mas agora todos eles têm valor de troca. Dessa forma, mas pessoas são incluídas na economia monetária, levando à um tendência de desaparecimento das economias de autossubsistência. Tais mudanças tornaram necessária a intercomunicação regional que, por sua vez, demandou mais urbanização.

O autor nos traz, então, as fases da circulação no território brasileiro, sendo a mais antiga caracterizada pela produção, consumo e circulação mais concentrados, com pouca fluidez no restante do país; a segunda, intermediária, marcada pelo aumento da circulação no território, dando início à unificação dos mercados; a última, atual, manifestada pelo intenso movimento de descentralização do processo produtivo, fazendo moderniza-se áreas até então distantes. Para Santos,

“A decisão geopolítica de estimular a industrialização em diversas regiões e de ocupar o território com projetos de colonização teve influência relevante nesse processo, mas o próprio mercado jogou papel fundamental, viabilizado pelas novas infraestruturas de transportes e de comunicações, assim como pela superestrutura dos mecanismos reguladores, sob o comando do Estado e dos agentes hegemônicos da economia, através, sobretudo, dos intermediários financeiros.” (p. 47)

Logo, a informatização do espaço foi fundamental para a modernização do território. Ela possibilita a aquisição de conhecimentos sobre os diversos lugares do país ao mesmo tempo, inclusive os mais afastados. A implantação destes sistemas está fortemente ligado à economia nacional e internacional, permitindo o desenvolvimento simultâneo de múltiplos lugares a serviço de uma mais-valia global.

Tal processo tornou interdependentes os espaços, nos levando de uma sociedade regional e natural até o capitalismo mais amplo e global. Segundo o autor,

“A regulação da economia e a regulação do território vão, agora, impor-se com ainda mais força, uma vez que um processo produtivo espalhado e tecnicamente fragmentado, para ser eficaz, tem necessidade de posterior reunificação. O aprofundamento da divisão do trabalho impõe formas novas e mais elaboradas de cooperação e de controle.” (p. 49)

Para que esse processo fragmentado funcione, é fundamental que haja mecanismos de vigilância e controle sobre os espaços a fim de fiscalizar a produção e distribuição, ampliando ainda mais a demanda por urbanização. 

É aqui que Milton Santos finaliza apontando os efeitos gerais dessa modernização no espaço nacional. Entre eles está a racionalidade no conteúdo do território, com o meio técnico-científico fundado na tecnosfera (a serviço produção) e na psicosfera (com regras e comandos ditados a partir de uma lógica global). Outro efeito é o aprofundamento das desigualdades espaciais, onde algumas áreas passaram a ser regidas por automatismos, inclusive no cotidiano; e outras onde o desenvolvimento técnico estão pouco ou nada presentes. Para Santos,

“Seria uma oposição entre espaços inteligentes, racionais, e espaços opacos, não racionais ou incompletamente racionais, comandando uma nova divisão regional do país e determinando novas hierarquias: entre regiões com grande conteúdo em saber (nos objetos, nas instituições e empresas, nas pessoas) e regiões desprovidas dessa qualidade fundamental em nossa época; entre regiões do mandar e regiões do fazer.” (p. 51)

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