PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - PARTE 13 | FICHAMENTO

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FREIRE, PAULO. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 49. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

ENSINAR EXIGE SABER ESCUTAR

“Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles.” (p. 111)

Saber escutar, para Paulo Freire, é uma ação necessária e de extrema importância no ato de ensinar. A escuta é o ponto de partida para a compreensão e é fundamental na definição de como falar com os outros. O professor que escuta não impõe sua fala, considera sujeito aquele que o ouve.

Não escutar é asfixiar a liberdade, padronizando fórmulas de ensino promovendo uma domesticação alienante que, nas palavras de Freire, “burocratiza a mente” e acomoda o sujeito diante das situações postas como inevitáveis, fazendo da história uma fato determinante e não de possibilidade. No entender de Paulo Freire, a ausência da escuta consolida ideias como a de que

"A globalização que reforça o mando das minorias poderosas e esmigalha e pulveriza a presença impotente dos dependentes, fazendo-os ainda mais impotentes, é destino dado. Em face dela não há outra saída senão que cada um baixe a cabeça docilmente e agradeça a Deus porque ainda está vivo. Agradeça a Deus ou à própria globalização." (p. 112)

A redução do ensino ao puro treinamento técnico fortalece o autoritarismo e dispensa a escuta, já que os discursos estariam prontos, passíveis apenas de serem absorvidos. Ao rejeitar a domesticação, desenvolvendo o processo de fala e escuta e permitindo a comunicação dialógica, o educador propicia a criação de um espaço de respeito.

Para Freire o silêncio no espaço de comunicação é de fundamental importância, onde aquele que escuta deve ser visto como sujeito e o que fala não deve se limitar a fazer comunicados, devendo ouvir os questionamentos daquele que o escutou. É nesse sentido que o autor afirma que,

"É intolerável o direito que se dá a si mesmo o educador autoritário de comportar-se como o proprietário da verdade de que se apossa e do tempo para discorrer sobre ela. Para ele, quem escuta sequer tem tempo próprio, pois o tempo de quem escuta é o seu, o tempo de sua fala." (pp. 114-115)

Escutar exige humildade. Também necessária para o respeita à diferença, a humildade não deve ser apenas uma formalidade. Ela deve permitir compreender que ninguém é superior a ninguém e que sua ausência está expressa na arrogância e na superioridade autodenominada pelo professor autoritário. Apesar da humildade ser de extrema necessidade, Paulo Freire adverte que,

"O que a humildade não pode exigir de mim é a minha submissão à arrogância e ao destempero de quem me desrespeita. O a humildade exige de mim, quando não posso reagir à altura da afronta, é enfrentá-la com dignidade. A dignidade do meu silêncio e do meu olhar que transmitem o meu protesto possível." (p. 119)

Mais do que impor ao aluno o nosso conhecimento e a nossa verdade, devemos respeitar a leitura de mundo que o educando trás para escola. Essa leitura normalmente é condicionada por sua consciência de classe e é revelada por sua linguagem. Daí a necessidade de escutar, o que não implica necessariamente em concordar e também não deve ser uma mera estratégia para aproximação do estudante.

A escuta deve ser realizada com o intuito de levar essa leitura de mundo da ingenuidade para a criticidade, servindo de ponto de partida para exercitar a curiosidade. Desrespeitar a leitura de de mundo do estudante serve apenas para revelar o gosto elitista do professor. É por isso que,

"No fundo, o educador que respeita a leitura de mundo do educando reconhece a historicidade do saber, o caráter histórico da curiosidade, por isso mesmo, recusando a arrogância cientificista, assume a humildade crítica, própria da posição verdadeiramente científica." (p. 120)

A tarefa da escola então é auxiliar na produção sistemática do conhecimento, obtida através do trabalho crítico da inteligibilidade das coisas. Isso não se alcança com a curiosidade domesticada. Pelo contrário, só é possível quando conseguimos firmar o estudante como sujeito que pode conhecer. É nesse sentido que Paulo Freire finaliza,

"Numa perspectiva progressista o que devo fazer é experimentar a unidade dinâmica entre o ensino do conteúdo e o ensino do que é e de como aprender. É ensinando matemática que ensino também como aprender e como ensinar, como exercer a curiosidade epistemológica indispensável à produção do conhecimento." (p. 122)


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