ALÉM DO DETERMINISMO E DO POSSIBILISMO: A PROPOSTA DE HARTSHORNE | FICHAMENTO

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MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 21. ed. São Paulo: Anablume, 2007.

ALÉM DO DETERMINISMO E DO POSSIBILISMO: A PROPOSTA DE HARTSHORNE

“A primeira diferença da proposta de Hartshorne residiu em este defender a ideia de que as ciências se definiram por métodos próprios, não por objetivos singulares. Portanto, a Geografia teria sua individualidade e autoridade decorrentes de uma forma própria de analisar a realidade.” (p. 97)

Além do Possibilismo e do Determinismo de que foram tratados capítulos anteriores, surge entre o final do século XIX e início do século XX a Geografia Racionalista. Essa categoria da disciplina procurou se utilizar de menor carga empirista, privilegiando o raciocínio dedutivo em suas análises. Os grandes expoentes de linha de pensamento da Geografia foram Hettner e Hartshorne.

Alfred Hettner, alemão, foi professor na Universidade de Heidelberg e editor da Autoridade Geográfica (tradução minha), uma das principais revistas geográficas da Alemanha. Suas obras foram publicadas entre as décadas de 1890 e 1910, sob influência das críticas francesas às propostas de Ratzel. Nesse processo, tentou buscar um novo caminho para a Geografia, definindo como objeto de estudo a diferenciação das áreas. Segundo Moraes,

"Isto decorreu da diferenciada fundamentação filosófica desses autores. A Geografia de Ratzel e a de Vidal tiveram sua raiz filosófica no positivismo de Augusto Comte, a qual foi passada acriticamente para seus seguidores. A Geografia de Hettner e Hartshorne fundamentava-se no neokantismo de Rickert e Windelband." (p. 95)

Moraes ainda destaca que

"As ideias de Hettner encontraram escassa penetração em sua época. Talvez em função do domínio incontestado do Possibilismo, que atravessava sua fase áurea. Talvez em função do próprio isolamento cultural da Alemanha, resultante do belicismo de sua política exterior." (p. 96)

Seguido adiante, a Geografia estadunidense se desenvolveu apenas a partir da década de 1930, favorecida pelo contexto de dominação cultural exercido por esse país sobre o Ocidente após a Primeira Guerra Mundial. Até esse momento, os Estados Unidos se limitavam a reproduzir as teses vindas da Europa.

Desde então, duas escolas geográficas se destacaram. Uma estava situada na Califórnia e possuía uma linha mais próxima da antropologia, fundando a Geografia Cultural onde se sobressaiu Carl Sauer. A outra, conhecida como do Meio-Oeste, bebeu da Sociologia Funcionalista e da Economia, se concentrando no estudo da organização das cidades. Ativa até os dias atuais, esta escola foi pioneira na construção de modelos de quantificação.

Porém, sem dúvidas, Richard Hartshorne foi quem de um grande passo para a Geografia estadunidense. Com obras publicadas entre os anos 1940 e 1960, ele retomou as propostas de Hettner, trazendo-as para o debate. Para Hartshorne, a Geografia deveria abordar os fenômenos estudados por outras ciências, trabalhando com as inter-relações dos elementos e a variação das áreas. Segundo Moraes,

"Desta forma, Hartshorne deixou de procurar um objeto da Geografia, entendendo-a como um ‘ponto de vista’. Seria um estudo das inter-relações entre os fenômenos heterogêneos, apresentando-as numa visão sintética." (p. 98)

Hartshorne praticou a Geografia Idiográfica ao empreender a análise singular e unitária a fim de obter profundo conhecimento de determinado lugar. Para ele, a constituição da área seria feita idealmente pelo observador, que deveria selecionar os dados obtendo, exaustivamente, as inter-relações em um espaço específico. Moraes explique que

"O caráter de cada área seria dado pela integração de fenômenos inter-relacionados. Assim, a análise deveria buscar a integração do maior número possível de fenômenos inter-relacionados. [...] uma vez de posse de vários conjuntos de fenômenos agrupados e inter-relacionados, integra-os, inter-relacionando os conjuntos." (p. 99)

A Geografia Nomotética também foi apresentada por Hartshorne. Mais generalizadora, esta especialidade deveria se limitar à primeira integração dos fenômenos, comparando-a com os de outros lugares para definir um padrão de variação. Neste contexto, ele articulou a Geografia Geral e a Geografia Regional.

Hartshorne representou o declínio e transição da Geografia Tradicional. Ela foi um importante marco para o pensamento geográfico ao sistematizá-lo lançando as bases para a fundação de uma ciência autônoma. Além disso, a Geografia Tradicional produziu um temário independente, um vasto acervo empírico, elaborou técnicas para descrição e representação do espaço, além de cunhar conceitos que utilizamos até hoje. Moraes aponta o fim da Geografia Tradicional com as seguintes palavras:

"As propostas de Hartshorne, por um lado, e de Cholley e Le Lannou por outro, encerram as derradeiras tentativas da Geografia Tradicional. Finalizaram um ciclo, que teve sua unidade dada pela aceitação de certas máximas tidas como verdadeiras, a saber; a ideia de ciência de sínteses, de ciência empírica e de ciência de contato." (p. 100)

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