ORIGENS E PRESSUPOSTOS DA GEOGRAFIA | FICHAMENTO

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MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 21. ed. São Paulo: Anablume, 2007.


ORIGENS E PRESSUPOSTOS DA GEOGRAFIA

“O rótulo Geografia é bastante antigo, sua origem remonta à Antiguidade Clássica, especificamente ao pensamento grego. Entretanto, apesar da difusão do uso deste termo, o conteúdo a ele referido era por demais variado.” (p. 49)

No pensamento grego, a Geografia aparecia em diversas perspectivas. Entre elas, o autor destaca o que hoje chamamos de Geodésia. Privilegiada por Tales e Anaximandro, ela tratava da medição do espaço e debatia a forma do planeta. Também existia uma perspectiva regional. Utilizada por Heródoto, ela fazia a descrição dos lugares. Sem a designação de Geografia, nos estudos de Hipócrates, aparecia a relação entre o homem e o meio. É por conta dessa diversidade que Moraes afirma que,

"[...] pode-se dizer que o conhecimento geográfico se encontrava disperso. Por um lado, as matérias apresentadas com essa designação eram bastante diversificadas, sem um conteúdo unitário. Por outro lado, muito do que hoje se entende por Geografia não era apresentado com este rótulo." (pp. 49-50)

Até o século XVIII, os trabalhos que receberam a denominação de Geografia reunia os conhecimentos geográficos sem padronização, se resumindo a relatos de viagem, lugares exóticos, relatórios estatísticos, fenômenos naturais e catálogos sobre os países do mundo. A sistematização e organização desta disciplina só iria ocorrer após completada uma série de pressupostos e condições históricas específicas.

O conhecimento sobre a exata extensão da Terra, fundamental para a apreensão de todo o planeta, abastecia a ideia de conjunto por meio do conhecimento e da dimensão da forma real dos continentes. Essa condição foi dada pelas grandes navegações, que constituíram um espaço mundial, fazendo com que, ao fim do século 19, todos esses parâmetros tivessem sido alcançados.

Também era necessária uma vasta coleção de informações sobre os diferentes lugares da terra, obtida por meio do levantamento dos dados sobre os diversos pontos do planeta, permitindo a discussão do caráter variável dos lugares. Tal condição foi permitida pelo avanço do mercantilismo, onde segundo Moraes

"A exploração produtiva dos territórios coloniais, com o estabelecimento de atividades econômicas, aprofundava ainda mais o conhecimento sobre suas características. Com o desenvolvimento do comércio colonial, os estados europeus vão incentivar o inventário dos recursos naturais, presentes em suas possessões, gerando informações mais sistemáticas e observações mais científicas." (p. 52)

Para a sistematização do conhecimento geográfico, também era necessário o aprimoramento das técnicas cartográficas, que, além de permitirem a representação dos fenômenos no espaço, foram padronizadas a fim de se obter precisão e representação única dos lugares de forma a possibilitar o cálculo das rotas e a orientação no espaço. Sobre isso, Moraes pontua que

"Todas essas condições materiais para a sistematização da Geografia são forjadas no processo de avanço e domínio das relações capitalistas. Dizem respeito ao desenvolvimento das forças produtivas, subjacente à emergência do novo modo de produção." (p. 53)

O autor ainda aponta uma outra classe de pressupostos fortalecida na posição ideológica do sistema dominante, que valorizou os temas geográficos com intuito de criar uma disciplina cujos conhecimentos beneficiassem ele próprio. A primeira valorização do conhecimento geográfico ocorreria na discussão filosófica, que buscava explicações mais abrangentes no mundo nas correntes do século XVIII, buscando a compreensão de todos os fenômenos da realidade, que seriam manifestados sob uma ordem. Para Moraes,

"Propor a explicação racional do mundo implicava deslegitimar a visão religiosa, logo, a ordem social por ela legitimada. Esta perspectiva, de explicar os fenômenos, englobava também aqueles tratados pela Geografia, sendo assim um fundamento geral de sua sistematização." (p. 54)

Os pensadores políticos o iluminismo, que idealizaram as revoluções burguesas e eram defensores dos interesses do capitalismo vigente, discutiam temas próprios da Geografia, como a as formas de exercício do poder e como deveria ser organizado o Estado. Os trabalhos de economia política valorizaram os temas geográficos como a produtividade natural dos solos, a diferenciação dos lugares, a consideração das distâncias e o aumento populacional.

Moraes aponta, contudo, as teorias do evolucionismo, contemporâneas à sistematização da Geografia, como fundamentais para o pleno reconhecimento do temário geográfico. Tais teorias destacavam a importância dos ambientes, desenvolvendo uma ideia de ecologia e solidificando a metodologia naturalista aplicada ao conhecimento geográfico.

Todos esses pressupostos teóricos e materiais estariam disponíveis já no século XIX. Constituídos no processo de formação, avanço e domínio das relações capitalistas, esses pressupostos se relacionam ao período de decadência ideológica do pensamento burguês, que buscava manter a ordem social em que exercia domínio. Para finalizar, segue uma afirmação de Moraes:

"A sistematização da Geografia, sua colocação como uma ciência particular e autônoma, foi um desdobramento das transformações operadas na vida social pela emergência do modo de produção capitalista. E mais, a Geografia foi, na verdade, um instrumento da etapa final deste processo da consolidação do capitalismo, em determinados países da Europa." (p. 57)

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